janeiro 30, 2006

A Arte do AEP

Coisa chata esta de fazer massagem. Não sei, nunca aprendi, minhas mãos doem quando invento tentar, sem contar que tenho preguiça demais para "curtir o momento", mas a Karen simplesmente adora. Vive pedindo para que eu aperte aqui ou ali. Tento persuadí-la da idéia, mas nem sempre tenho sucesso na empreitada.

Talvez eu tenha um dom para massagear. Só assim para entender que mesmo sob protesto da minha parte, a Karen goste daquilo que eu nunca arriscaria chamar de massagem. Um profissional da área certamente tentaria me matar ao presenciar o meu método AEP (Aperta, Esfrega e Puxa).

Minha irmã fiseoterapeuta fez um curso de Shiatsu tempos atrás. Para quem não sabe, este palavrão na verdade é uma arte milenar, onde o indivíduo recebe uma massagem sentado-deitado numa cadeira que mais parece artigo de Sadomasoquismo. Com a cara enfiada num troço que parece uma comadre, a pessoa fica sentada de frente, ajoelhada, e com uma inclinação de cerca de 45º. É ou não é estranho?

Pior do que a cadeira foi a constatação do que o marketing fez com o nome do Shiatsu. Como o slogan "Venha relaxar fazendo Shiatsu", unido da cadeira sadomasoquista, faria com que as pessoas achassem que aquilo tratava-se de algum capítulo especial do Kama Sutra, os marqueteiros de plantão criaram a "Quick Massage", o fast food da massagem! Quinze minutos de AEP profissional e o cidadão está novinho em folha.

Acho que eu deveria pagar para a minha irmã fazer as massagens que a Karen tanto quer. Até toparia deixar elas usarem o assento do Shiatsu. Teria certeza de que nada aconteceria. Definitivamente, ninguém merece ser corno do massagista. E eles já "encostam" demais para meu gosto.

Não consigo levar massagistas a sério. Cada vez que avalio a hipótese de passar por uma "Quick Massage" lembro do senhor Miyagui, do Karatê Kid, e a cena onde ele bate um tamborzinho estranho e faz uma massagem no joelho machucado do coitado do Daniel Larusso. Isso me faz ter gargalhadas incontroláveis num momento que deveria tentar relaxar.

Mas voltando ao problema da massagem na minha esposa, se você não tem uma irmã "profissional" como eu, é melhor se agitar. Pelo que já pude perceber nesta vida, mulheres gostam de massagem. E se você, como eu, não entende quase nada do AEP, é melhor se apressar e comprar um daqueles livros de massagem oriental. Você vai descobrir coisas incríveis, como o porquê de se conseguir melhorar as dores do fígado apertando uma parte específica das solas dos pés.

Coisa mais chata. Não era mais fácil evitar a bebida alcóolica? Isso bastava para evitar dores no fígado.

janeiro 27, 2006

É proibido dormir no sofá

- Daniel. Daniel. Daniel!
- Hã?!?
- Acorda. Você está dormindo.
- Não estou. Tô assistindo televisão.
- Está sim. Vá para a cama.
- Já disse que não estou. Estou somente deitado e...
- E dormindo.
- Karen, qual o problema de se dormir no sofá?
- Viu, você admitiu que estava apagado.
- Estou falando hipoteticamente.
- O problema é que você ronca.
- Mas se eu não peguei no sono, como poderia estar roncando?
- Você ronca acordado. Nunca percebeu?
- Bom, de fato tenho a sensação de ter despertado com meu próprio ronco algumas vezes.
- Pedro Bó...admita! Você estava dormindo!
- Tá bom. Agora deixe-me dormir.
- Não! Faça-me companhia...
- Poxa, Karen, estou cansado.
- Ah, você nunca faz o que eu te peço. Vá dormir então, seu egoista!
- Obrigado. Vou fazer exatamente o que você me pediu.

Cinco minutos se passam. Acho que eu não estou roncando, afinal ainda não acordei com ele.

- Daniel...Daniel...Daniel!!!
- Ai! O que?
- Está dormindo?
- Agora não mais! - digo, levantando-me para finalmente ir para a cama.

Eis um momento que retrata um grande mistério de meu casamento. Seis anos de convivência e eu ainda não descobri qual o problema de se dormir no sofá. Alguém pode me dizer porque diabos eu não posso fazer isso????

janeiro 26, 2006

Os Dez Mandamentos da Convivência Matrimonial

1- Não comerás o chocolate alheio
Nunca coma o chocolate de sua esposa. Sob hipótese alguma. Mesmo que sua vida dependa disso. Mulher brava já é algo que ninguém quer ver. Você vai desejar morrer se além de brava, ela estiver de TPM e não encontrar aquela barra de 2 quilos guardada desde a última compra.

2- Não trocarás a estação do rádio do carro
Mulheres gostam de música. E pela "sagrada" lei de Murph, as que Ela mais gosta, são exatamente as que você mais detesta. O problema é que as mulheres acham que são donas do rádio do carro, portanto, nem ouse mudar a estação para dar uma espiadinha no resultado daquela partida do seu time de coração.

3- Não reclamarás dos passeios ao shopping
Sim, mulher gosta é de passear no shopping. E passear, para elas, é sinônimo de comprar. Mas comprar o que? Nem elas sabem. Por isso a demora em escolher algo que não fique largo porém não seja apertado, que fique curto porém não vulgar e que a etiqueta apresente dois números menores daquele que ela realmente usa.

4- Sempre comentarás do cabelo
Só tem uma coisa mais importante na vida de uma mulher do que você: o cabelo dela. Costumo dizer que se eu fosse tratado como as madeixas da Karen, seria o homem mais feliz da face da Terra. Logo, trate de elogiar cortes, mudanças de cores, escovas e tudo que envolver atualizações no visual. Descubra o dia que ela costuma ir ao cabelereiro e mesmo que ela não faça nada, comente positivamente. Neste caso é melhor pecar pelo exagero de elogios do que pela falta deles.

5- Não falarás durante a novela
Mulheres gostam de se concentrar durante o tal folhetim televisivo. Acredite: elas não querem saber se você quer isso ou aquilo. O importante é saber quem matou a Bia Falcão.

6- Aguentarás as 7500 palavras diárias
Nós homens falamos em média 2500 palavras por dia. Elas, 7500. Logo, é muito provável que sua esposa chegue em casa sem ter conseguido gastar todo o estoque e queira acabar com ele justamente com você. Prepare o ouvido e a cara de conteúdo. Você vai precisar.

7- Não jogarás futebol mais de uma vez por semana
Mulheres detestam futebol na sua maioria absoluta. E mais do que o tal esporte, elas abominam o fato de nós homens participarmos das famosas "peladas". Não adianta dizer que você pratica um exercício e que isso faz bem para sua saúde e mente. Elas sempre acham que a ginástica praticada é o levantamento de copo de cerveja e a sua mente não faz outra coisa senão pensar na mulher alheia.

8- Não terás amigos do sexo oposto
Elas não acreditam em amizade entre homens e mulheres. Por mais que você diga que tudo não passa de afinidade, elas sempre acharão que a outra está somente aguardando o momento certo para atacar e roubar "o homem alheio". Aqui cabe um detalhe: usando a lógica, se sua esposa arrumar um amigo, muito cuidado! Sua cabeça pode estar a prêmio.

9- Não reclamarás do carro
Você sabe o que é uma roda raspada? E um amassadinho na porta por não tomar cuidado ao abrí-la? E aquela raladinha no para-choque traseiro? Eu não sei nada sobre isso. É melhor simplesmente ignorar e fingir que eles não existem.

10- Realmente não comas o chocolate alheio
Este mandamento é importante demais para ser esquecido, logo aparece duas vezes. Se você não levou a sério da primeira vez, leve agora. Você não vai gostar de experimentar a fúria de uma mulher em momento de distúrbio hormonal.

janeiro 24, 2006

O Cão-Demônio

Existem decisões na vida que são capazes de mudar o futuro do relacionamento de um casal. Pode ser por conta de um projeto profissional, por causa de uma viagem ou pela decisão de se ter um filho. No meu caso o que mudou foi a chegada de um animal. Sim, isto mesmo, um bicho de estimação.

O nome dela é Frida. Ou Frida Maria Neusa Regina dos Santos, como gostamos de chamá-la. Trata-se de um Daushaund cor pinhão, mais conhecido por aqui como aquela raça que parece uma salsicha.

Tudo começou exatamente a quase um ano atrás. Era 25 de janeiro de 2005, feriado em São Paulo. Eu e a Karen andávamos por aí meio que sem saber o que fazer, quando tive a súbita idéia de "olhar" cachorrinhos por aí.

A questão é que eu não sei só "olhar" e acabei, para desespero futuro da Karen, comprando aquela cadelinha que se mostrava tão dócil, calma, com carinha de "me leva" e extremante pacata. E olha que esta raça, enquanto filhote, é simplesmente irresistível. Não tem como não se apaixonar por eles.

Quando digo para desespero futuro, digo porque aquilo que era para se transformar numa diversão, tornou-se um tormento nas nossas vidas. Isso mesmo: a calma Frida na verdade era o cão demônio! Em pouco tempo ela destruiu parte do carpete, comeu uma almofada do sofá, consumiu quilos e mais quilos de ração especial para filhotes de cão, detonou roupas, chinelos, cardaços de tênis e sapatos, chegando ao ápice de literalmente morder R$ 250,00!

Quando escolhi ela no canil deveria ter olhado para os sinais que indicavam que esta cachorra não era comum. Não que ela tenha uma marca de nascença formando o 666, mas ela tem dedos a mais nas patas traseiras, uma coloração diferente da maioria absoluta da raça, olhos de cor igualmente diferente, uma mama sem par (um peitinho a menos!), além da total falta de coordenação para coisas comuns para cães, como saltar ou correr.

Não culpo a Karen de ter dito "ou eu ou a cachorra". Realmente tratava-se de uma crise sem precedentes para o casamento. Sentia-me como Kennedy na crise dos mísseis de Cuba. Mas ressalto que no lugar dela também ficaria uma arara ao descobrir que perdi quase todas as minhas peças íntimas porque a cachorra tem um desejo incontrolável de comer tudo que encontra pela frente.

É por estas e outras que recomendo a você que evite trazer para o casamento um bichinho de estimação. Pelo menos evite aqueles que devoram roupas. Se quer mesmo um animal de estimação, opte por uma tartaruga, uma peixe ou uma chinchila. Agora, se mesmo assim você ouvir de sua esposa algo do tipo como "ou você fica comigo ou com seu porquinho da índia fedorento", meu amigo, como diz um conhecido meu: você está na vala total!


Frida: totalmente desinibida e descontraída

janeiro 23, 2006

A Cozinha da Mulher

Eu diria que ser casado é quase uma aventura épica. Se fosse um filme, seria um daqueles que mistura amor, ódio, aventura, suspense e terror. Tudo com uma boa pitadinha de comédia. É estranho (e porque não até meio desesperador) perceber a quantidade de sentimentos que passam pela minha cabeça neste dia-a-dia de louco.

Engana-se aquele que pensa que a vida de um homem acaba quando este se casa. Na verdade a vida está só começando. Aliás, quando ouvia os mais velhos dizerem isso, achava que era dor de cotovelo por não poderem mais curtir a liberdade que só a solteirice nos propicia.

Ganha-se muito ao optar pela vida de cônjuge, mas na minha opinião nada é comparável à inenarrável experiência de adentrar a chamada "cozinha da mulher".

O termo nada tem a ver com o machismo ou com uma brincadeira sem graça com o sexo oposto. Trata-se de uma teoria séria e com um alto grau de estudo e observação do ser mais enigmático, estranho, dúbio e prolixo que conheço no mundo: a Karen (minha esposa).

Imagine que a mulher é uma casa que você vai visitar. Você é convidado a entrar e logo percebe que a sala está arrumada, com absolutamente tudo no lugar. Você senta, olha para os quadros na parede, admira os bibelôs da mesa de centro, gosta dos livros e cds que encontra nas estantes e acaba por aceitar experimentar isso e aquilo. Quando menos espera, lá está você, de volta e de volta e de volta. Aos poucos aparece a chance de conhecer a sala da jantar, os quartos, o quintal, a garagem e nós aproveitamos sem perder tempo.

Apesar de poder jurar que eu conheci todos os cômodos da tal casa, quando eu e ela "unimos as escovas de dente" é que descobri que teve um lugar no qual esqueci completamente de olhar: a cozinha. E é exatamente neste lugar onde estão os maiores segredos, os maiores problemas e, também, os maiores segredos e detalhes daquela que agora dorme comigo e me chama possessivamente de "meu marido".

Admito que fiquei um tanto assustado com a cozinha que encontrei, mas aos poucos acostumei-me e acabei até gostando. Mas admito que este caminho foi tortuoso e cheio de obstáculos. Meio corrida de Cross Country, aquela que somente quenianos de pernas longuíssimas conseguem vencer.

Neste espaço falarei desta tal corrida e de como você, leitor, pode também vencê-la. Tudo depende da sua vontade, do tamanho das pernas e principalmente do seu senso de observação.

E depende dela também.

Bem... ou quase só dela.

Melhor: exclusivamente dela, afinal, a cozinha é de quem mesmo?