abril 25, 2007

Achados e perdidos

Não são poucas as vezes que me sinto um completo idiota. Destes que seriam incapazes de cuidar de duas tartarugas sem deixar uma delas fugir. Você homem deve saber bem do que eu estou falando. Sabe quando você tenta encontrar aquela cueca da sorte que nós usamos somente em jogos de Copa? Aquela nota fiscal que você anotou o telefone do celular do seu chefe? Ou, até mesmo, o maldito controle da TV? Pois bem, você nunca os encontrará antes que sua esposa diga-lhe exatamente onde eles estão.

Eu que sou um esquecido padrão - destes que não se lembra onde colocou algo menos de dez segundos depois de tê-lo guardado - não saberia viver sem a Karen. Às vezes acho até que ela esconde de propósito, só para me fazer dependente.

Sou capaz de abrir a gaveta em busca de um elefante, revirar tudo e não achar nada. Lá vai a Karen, cinco segundos depois, e tira o enorme bicho da gavetinha com aquela expressão que quer dizer "está aqui, seu idiota".

Ela diz que não encontro nada porque não as guardo, as largo. Pode até ser, mas eu prefiro classificar o ato delargar como uma decisão de deixar algo em um local de fácil acesso. Gostaria de saber o porquê de não poder deixar meus óculos em cima da pia da cozinha.

Remexendo no arquivo-morto da minha memória, percebo agora que esta dependência vem antes mesmo do meu casamento. Algumas passagens foram até traumáticas, destas que te deixam com medo de água, de escuro ou de palhaço. Não sei exatamente a relação disso, mas quem sou eu para discordar do terapeuta. Se ele disse, tá falado!

Antes da Karen, quem fazia o papel de “lembrador” era minha mãe. Certa vez ela deixou uma nota de 50 cruzeiros ou cruzados, não me lembro agora, para que eu fosse comprar carne. Esse dinheiro era uma fortuna na época.Pensei em até fugir de casa e ir para o Caribe.

Coloquei o dinheiro instintivamente no bolso da bermuda e lá fui eu para o açougue, lindo e pimpão. Pedi a carne, conversei com o açougueiro e não hora de pagar...cadê o dinheiro? Procurei, revirei os bolsos, levantei a camisa, olhei até na meia. Nada. Fiquei sem a carne, sem o dinheiro e com um baita medo de levar uma surra.

Quando minha mãe chegou, notou minha cara de desespero e como se tivesse certeza do sumiço, perguntou: “Cadê a carne, Daniel?”. Eu suei frio. Cheguei a pensar em dizer que havia apostado tudo no jogo do bicho e perdi, mas resolvi não mentir. E não foi que a resposta, simples até demais, foi: “Está no seu bolso”!?!

Como podia? Como se tivesse surgido do nada, a tal nota de 50 apareceu! Onde ela havia dito que estaria! Ou estou estava louco ou minha mãe é mágica e eu não sei.

Acho que vou começar a escrever num caderninho onde guardo cada coisa. Assim, sempre que precisar encontrar alguma coisa, consulto a caderneta. Se bem que pensando melhor, seria mais fácil eu perder as anotações bem na hora que eu precisar delas.